Tem 50 anos, trabalha em televisão há 27 e quase ininterruptamente. Estreou-se em Vila Faia e agora é o pai da protagonista da novela líder de audiências. Qual foi a maior dificuldade neste caminho ascendente?(Pausa) Isso é difícil de responder, porque não vivo no passado, vivo no presente... tenho memórias esporadicamente, mas não vivo em função disso. Portanto, não me lembro exactamente do momento em que senti mais dificuldades..Hoje, passados tantos anos, olha para o seu currículo e sente que a televisão foi uma garantia de sustentabilidade ou uma opção artística? Não foi uma opção. Deixei que as coisas fossem acontecendo, não as procurei... elas foram acontecendo e, felizmente, foram acontecendo desta maneira. Estou contente com o que tenho passado. Se me perguntasse se gostava de ter feito mais cinema e mais teatro eu respondia-lhe que sim..E foi pela mão de Nicolau Breyner que chegou à televisão...Eu e muitos, como o Nuno Homem de Sá, a minha ex-mulher, Filipa Trigo, a Manuela Marle. A minha primeira formação foi um curso intensivo de três meses, onde tínhamos a sensação de estar presos numa cave de Miraflores. (risos).Já ouvi vários actores dizerem que o motivo primordial que os faz trabalhar em televisão é a estabilidade financeira. Integra-se neste grupo?Não. Não sei até que ponto é que o que eles dizem é verdade. Há uma expressão que é usada e que acho um disparate muito grande: "actores de novela". Um actor é um actor, independentemente da área. Se formos por esse caminho, tenho de falar da escassa oferta de especializações no País. Não há espaço para isso. E digo mais: um actor de televisão tem um traquejo muito grande para qualquer área..Acha que um actor que faz televisão está mais habilitado para fazer teatro ou cinema do que o contrário?Não. O que quero dizer é que um actor que faz televisão e, sobretudo, muitas novelas, tem muito mais ginástica para mudar mais rapidamente de papel do que uma pessoa que não está habituada. .Tem quatro filhos. Teria condições de os sustentar, garantir a sua qualidade de vida, se não trabalhasse em televisão?Não. E depois há uma coisa: uma pessoa habitua-se a um determinado nível de vida e regredir é muito complicado. Não privilegio a minha vida profissional. Privilegio a minha vida familiar. Se consigo mesmo assim ter uma profissão que me dá muito gozo, óptimo. .Tem contrato de exclusividade com a TVI?Tenho, com a Plural..E há quantos anos o tem?Há poucos..Chegou a ser sondado pela SIC?Sim... quer dizer, não foi pela SIC....... foi pela SP Televisão?(aceno afirmativo).E não aceitou porquê? Deve ter sido uma proposta tentadora...Não aceitei porque sou fiel, visto a camisola..Já foi vilão, brutamontes, um super pai, um pintor, e agora é um homem totalmente dependente da mulher. Faltava-lhe um papel como este?Não me falta nenhum papel e faltam-me todos... porque não há ninguém igual e já fiz vários estereótipos. Não estou muito preocupado com o que posso vir a fazer ou com o que já fiz e me preencheu..A última vez que falei consigo disse-me que depois de Feitiço de Amor queria fazer uma novela séria...O meu núcleo era fantástico, com a Maria João Luís, a Maria João Abreu, a Sofia Arruda e o André Nunes, que é um actor a quem auguro um futuro muito promissor. Em termos de projecto é que não me preenchia muito..E esta novela preenche-o mais?Preenche. .Conhece muitos Manuéis Coutinhos?(Pausa) Conheço alguns. Aliás, tenho por hábito, quando quero construir a personagem, basear-me em uma ou mais pessoas que passaram pela minha vida. Não faço cópias, mas baseio-me em alguém concreto para dar mais veracidade ao papel. Normalmente este tipo de dependências é mais de mulheres e por isso também me baseei em mulheres... acho que a diferença não é muita. .E o Luís, sente-se muito dependente da sua mulher? Afinal ela também é a sua agente [Vanda Correia, também agente de Ricardo Pereira, Ricardo Carriço, Sofia Grilo]...Sou Vando-dependente. (gargalhada) Mas também sou filho-dependente. (risos) .É defensor daquela velha máxima de que "atrás de um grande homem está uma grande mulher", portanto...(Sorriso) E atrás de uma grande mulher está sempre um grande homem..Dependência é sinónimo de insegurança?Não. Até me considero bastante seguro. Sentimo-nos muito bem um com o outro, completamo-nos. Temos um grande sentido de lealdade... construímos uma relação muito sólida. .Mas deve sentir-se muitas vezes inseguro. É à Vanda que recorre imediatamente?Sim, claro. .Também se deve ter sentido inseguro em relação à oferta de trabalho em televisão...Claro. Lembro-me de que quando os meus filhos mais velhos eram mais pequenos tive de fazer várias coisas ao mesmo tempo, porque não podia fazer só uma. Na altura em que nasceu o meu filho mais velho, que já tem 20 anos, tinha dois ginásios, estava no ISEF (agora Faculdade de Motricidade Humana), estava a fazer uma novela numa produtora do Tozé Martinho, a Atlântida, e a fazer uma peça no Casino do Estoril, Piaf, com a Bibi Ferreira. Foi muito complicado....Quando pensa no seu futuro como actor, imagina-se a trabalhar em novelas?Gosto muito de ser actor, mas também tenho fases em que me farto um pouco. Gosto de mudança... mas acho que me manterei como actor o resto da minha vida. Porventura não manterei este ritmo e terei outras opções de vida..Provavelmente não consegue eleger qual o papel que lhe deu mais prazer interpretar...Consigo. Mas não é por mim, mas pela maneira como as pessoas me abordam. O Manuel Marinhais, de Vila Faia, o Diogo, de Polícias e o Vasco de Super Pai. .E o Vasco Figueiredo foi uma personagem especial?Sim. Foi um projecto muito giro, mas muito cansativo e violento... e nessa altura nasceu a minha terceira filha, Teresa. .Sente-se muitas vezes um super pai?Não. Sinto-me um pai presente, especialmente para os dois mais novos [filhos com Vanda Correia]. E isso não aconteceu com os dois mais velhos, já que me separei quando o Guilherme tinha quatro anos e a Constança dois. E por isso faço questão de o fazer com os mais novos. Até porque se calhar foi por isso que me tornei mais homem de família. .E a relação que tem com os seus filhos mais velhos, como é?É óptima... Ainda hoje o meu filho vem ter comigo para passar uns dias. Tenho uma grande cumplicidade com ele, o que talvez se explique pelo facto de eu ter andado no Colégio Militar e ele também, por opção dele... Defendemos os mesmos valores..Como é que reagiu à notícia de que houve vítimas de pedofilia no Colégio Militar entre 2001 e 2007?Não tenho nada contra a homossexualidade. E a homossexualidade no Colégio Militar não é bem recebida. Agora a pedofilia não aceito nunca, jamais. Mas há sempre ovelhas ranhosas... mas acho muito difícil que as coisas tenham acontecido como foi noticiado..E o seu filho, contactou com este tipo de realidade?Ele, os meus sobrinhos e os filhos dos meus amigos andavam lá nessa altura, mas não têm memória alguma disso. .Casou-se no dia em que comemorou 50 anos. É muito ligado a efemérides?Nada. Mas não queria que fosse mais uma festa de 50 anos... Isto porque muitos amigos meus do Colégio Militar celebraram 50 anos este ano também. Como eu e a Vanda estávamos para casar há muito tempo, decidimos que era a ocasião certa. .E porque decidiu casar depois de 11 anos de vida em comum?Não era essencial que casássemos... mas é bom estar casado.Emocional e profissionalmente, sente-se um homem completo?Para uma pessoa se sentir completa tem de haver equilíbrio entre o emocional e profissional. E eu sinto-me equilibrado. .E para completar o completo envolveu-se em dois filmes portugueses este ano, Duas Mulheres e Quero Ser Uma Estrela. Estava com saudades de fazer cinema...O Quero Ser Uma Estrela foi rodado em Moçambique. E fui lá com a Vanda porque ela veio fazer uma figuração como minha mulher. No Duas Mulheres também propuseram à Vanda fazer de minha mulher. E foram pequenas participações, que me deram muito prazer. No caso de Quero Ser Uma Estrela foi óptimo porque fomos passar uma semana a Moçambique. .E a Vanda não se sentiu intimidada com as câmaras?Não, porque eu disse-lhe exactamente o que ela tinha de fazer. .Foi uma lua-de-mel em Moçambique... Já que não a tiveram a seguir ao casamento [em Abril], certo?Foi "A" lua-de-mel. E conhecemos Maputo e o Kruger Park [África do Sul]. Foi maravilhoso...